Investigador de Coimbra há muito que alerta para estes perigos e riscos associados
Pouco ou nada se tem sido feito em Portugal no que respeita à prevenção de “movimentos de vertente” (deslizamentos, desabamentos, fluxos, etc), frequentemente referidos como “derrocadas”. A aobservação é de José Gomes dos Santos, investigador do Instituto de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra, que há largos anos estuda a morfodinâmica do relevo do Norte de Portugal, nomeadamente a zona onde uma composição ferroviária caiu ao rio Tua após um desabamento de blocos rochosos, provocando um morto e dois desaparecidos.
Ao Diário de Coimbra, José Gomes dos Santos recorda os variados estudos (alguns publicados internacionalmente) que elaborou, nos quais propõe metodologias de classificações de risco de ocorrência destes fenómenos em muitas das vertentes da bacia do Douro (em particular no Douro Vinhateiro) e lamenta verificar que apesar dos muitos alertas nada se faz preventivamente. “Só se actua depois dos acidentes ocorrerem”, refere, lembrando vários acidentes naquela zona, alguns deles causadores de vítimas mortais.
A título de exemplo, aquele investigador diz ter entregue pessoalmente, em 2001/2002, na Câmara da Régua, um estudo que dava conta de 433 movimentos de vertente (de diferentes dimensões) por ele registados, em trabalho de campo, no espaço de, aproximadamente, um mês. “Acha que alguém me contactou ?”, questiona, desanimado com o elevado número de alunos seus desempregados sem que exista uma consciencialização para este tipo de problemas. Um dos trabalhos, que foi apresentado à antiga Direcção Regional do Ambiente e Ordenamento do Território do Norte (ex-DRAOT-n), dava conta dos coeficientes de risco atribuíveis a determinadas zonas e sectores de vertente (a mesma vertente terá um coeficiente de risco diferente dependendo, por exemplo, da ausência/presença de cobertura detrítica predisposta à instabilização, da presença/ausência de vegetação e do declive), tendo em conta um cocktail de factores interactivos intrínsecos ao material rochoso que condiciona a estabilidade das vertentes. As manifestações de instabilidade traduzem-se, com frequência, em desastres que produzem danos materiais e, não raras vezes, implicam a perda de vidas humanas (Godim-Régua e Alvações do Corgo, no Outono /Inverno de 2000/2001) e funcionam como factores de ignição (desencadeamento de instabilidade) que se podem balizar com relativa fiabilidade por determinadas alturas do ano em que valores críticos de precipitação desencadeiam este tipo de processos. Mais um alerta que, admite, não teve repercussões práticas ao nível da sensibilização dos agentes que directa ou indirectamente intervêm no planeamento e no ordenamento territoriais.
Finalmente, José Gomes dos Santos referiu que a ocorrência recente de um sismo de elevada magnitude deverá ter tido repercussões ao nível dos diversos e ramificados reajustes estruturais do relevo Ibérico, cujas traduções morfológicas permanecem por avaliar. O sismo verificado às 10.36 teve a magnitude de 5,8 na escala aberta de Richter e foi o maior sentido nos últimos 30 anos em Portugal continental, sentindo-se de Norte a Sul do país. Terá tido alguma importância esta ocorrência na produção de novos contextos morfodinâmicos que predisponibilizam os materiais das vertentes para situações de instabilidade? Esta leitura relacional da geodinâmica não é de excluir, assume este especialista, sendo este o caminho a privilegiar numa óptica de transição daquilo a que refere como “uma cultura de reacção” para uma “cultura de prevenção”. O acidente registado ao final do dia na Linha do Tua (que poderá ter sido provocado por um desabamento de pedras, admitiu a REFER) causou um morto confirmado, um ferido e dois desaparecidos.
In JLC - Diário de Coimbra
24 fevereiro 2007
“Acha que alguém me contactou ?”
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