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08 março 2008

Douro: A causa das coisas

3/08/2008 09:31:00 da tarde | Os comentários exprimem a opinião dos comentadores independentemente do sexo, da religião, da cor de pele, da cor política, da cor clubista, da nacionalidade, da língua, do 'volume da carteira', com ou sem 'canudo', letrados ou iletrados, bonitos ou feios... | O respeito pelo outro... a lealdade, mesmo na luta com o nosso adversário... o princípio de que a nossa liberdade acaba quando interfere com a de um nosso semelhante... impõe que se pratique a moderação dos comentários sem censura ou corte ideológico!... | O Barco Rabelo | pelorioabaixo@gmail.com | Copyright 2006 - 2010 barcorabelo.net
Pega uma pessoa numa publicação qualquer mesmo já dos tempos mais antigos, e não encontra referência à região do Alto Douro, onde não seja visível e tratada a crise do sector da vinha e do vinho, com muitos gritos de alguém que nos acuda que nos levam tudo e nos matam à fome. Aliás o próprio acto da demarcação mais não foi do que uma tentativa profunda para se dealbar e regular um sector em tormenta para muitos, e com muito boas entreabertas para uns poucos.

Isto claro, para além de ter sido um modo bem eficaz de o poder centralista deitar mão a uma actividade económica que em poucos anos se tinha afirmado como uma das mais promissoras e uma daquelas onde eram geradas as mais chorudas mais-valias. Este termo ainda não seria conhecido pelos homens de há duzentos e cinquenta anos, mas é o mesmo, pois não seria por uma questão de nome ou de conceito, que a riqueza não era sabida como tal.

Regulou-se então com um saber suficiente para ainda hoje ser actual, foram-se alargando mercados e foi-se estendo o território sob regulamentação, e transformou-se o produto em algo valiosíssimo logo tido como primeiro entre os primeiros depois de brotado deste chão estendido ente o Minho e o Algarve paredes meias com a Espanha e com o mar imenso.

Caso alguém se dê ao trabalho de olhar para o modo como historicamente entretanto os modos de ver e de agir se foram verificando e implantando, igualmente logo se apercebe de duas concepções distintas suportadas por contextos políticos gerais e com pouca ou nenhuma origem na região. Sempre que no poder politico do Reino e depois da Republica tiveram assento defensores de teorias mais autocráticas e mais absolutistas, ganhava força a Companhia criada pelo marquês do Pombal, e por essa via, mais intervencionada e regulamentada era a actividade no sector vinícola na região do Douro. Tudo indica que na sua inquestionável visão de grande estadista, Sebastião José de Carvalho e Melo, logo se apercebeu das especificidades da lavoura duriense, ou mais propriamente do vinho do Porto, e porque elas existiam, havia que ter cuidado. Porque o negócio era proveitoso, mas desigual, não podia ser entregue às contingências meramente conjunturais, e só podia funcionar a contento para as partes, quando devidamente regulado.

Pelo outro lado, sempre que o ceptro esteve na mãos de defensores das teorias da politica liberal, perdia força a Companhia. Perdeu-a de tal forma, que foi extinta em 1851 já com o liberalismo definitivamente implementado em Portugal, para contentamento de uns e para forte desagrado de outros. Está nos livros, que quanto mais fraca estava a Companhia, mais desprotegidos se sentiam aqueles que granjeavam as videiras e produziam os vinhos que sempre foram e são a essência do negócio. Nada tardou que de chapéu na mão, tivessem de mendigar a compra dos seus néctares aos poucos que tinham e têm a profissão de os comprar para depois os vender. Neste anda que não anda, grassou em largos períodos a fome no Douro, e campeou a miséria em simultâneo com o maior regabofe e com a mais real abastança. A penúria de uns, sempre pareceu ser a melhor garantia para a barriga farta de outros. Mesmo entre os que na região viviam em redor das vides que davam o sustento das vidas, nem sempre este foi justo e devidamente repartido para que os estômagos se não colassem às costas que acartavam ou enchiam os cestos vindimos.

Já quase na nossa era, em 1932, com um Estado Corporativo e ditatorial a nascer, para obviar os enormes problemas e a mais uma vez enorme crise, fundou-se a Casa do Douro que depois recebeu delegação de competências do Estado, e que por essa via, regulamentou a actividade. Grosso modo, décadas depois, quase um século, substituiu a Companhia oitocentista de onde o Douro vinhateiro nasceu.
Mas como dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e essas agora germinam não na capital do país, mas antes na da União Europeia, por entre os corredores labirínticos da burocracia e da tecnocracia, que como se sabe, são desenhados ao jeito dos membros e dos interesses economicamente mais fortes.
Neles, o Douro mais não é do que um pequeno ponto na parede impessoal de um qualquer gabinete, e no devido tempo, não se soube ou não se pôde pela parte de Portugal fazer ver as características únicas da lavoura duriense. Não se entendeu o que foi entendido há dois séculos e meio, e entregaram-se as regras quase ao livre arbítrio e ás contingências do mercado, ainda que por cá, meia dúzia compre o produto que trinta e tal mil produzem, sem que se repare que assim não pode dar certo. Levantam-se clamores, aludem-se interesses egoístas e inconfessáveis, a par de eventuais soldos, mas reflecte-se muito pouco ou nada.

A causa das coisas poucos se dão ao trabalho de a perceber, mesmo que tal seja imprescindível. Quase tanto como acabar aqui o artigo, que já vai quase tão longo como o esquecimento que permitimos que sofra este nosso Douro que nos estremece.

mail: Manuel Igreja
in Diário de Trás-os-Montes

1 comentários:

Anónimo disse...

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