1-
Ameaça constante de derrocada nas encostas do Vale do Tua
Influência do sismo no acidente
O acidente ferroviário ocorrido no passado dia 12, que arrastou para o rio uma automotora do metropolitano de Mirandela, foi o mais grave em 120 anos de história da linha do Tua (três mortos e dois feridos), mas o elevado risco que esta via-férrea encerra, sobretudo entre o Cachão e a foz do rio Tua, poderia ter provocado muitos mais.
Esta tese é defendida por José Gomes dos Santos, professor da Universidade de Coimbra, que estudou durante algum tempo o vale do Tua, no âmbito da elaboração do trabalho de doutoramento. Por conhecimento de causa, adianta que "há frequentemente movimentos de blocos ao longo das vertentes que são potencialmente perigosos".
Um exemplo disso é a derrocada que há alguns anos ocorreu poucos quilómetros a montante do local onde a automotora do metropolitano de Mirandela caiu ao Tua e onde permanece há espera de solução. Dessa vez não ia a passar nenhum veículo, mas uma boa dezena de metros de encosta foi parar ao rio, interrompendo a linha e obrigando a complicados trabalhos de reparação.
Despreendimentos
O investigador aponta como causas a morfologia e a composição das vertentes que, aliadas a diversos factores naturais, provocam sucessivos despreendimentos de terras e pedras. O mesmo se aplica à linha do Douro, em que há permanentemente desabamentos para a via, bem como a várias estradas da região.
"Todas as vertentes rochosas do Alto Douro Vinhateiro e as partes terminais dos afluentes do rio Douro são potencialmente perigosas", referiu, ao JN, José Gomes dos Santos
Tal situação é justificada pela abundância de blocos de granito e xisto, rochas "muito fracturadas, antigas, e debilitadas do ponto de vista da tectónica". João Gomes dos Santos explica que vertentes como as do Tua estão, geralmente, em "equilíbrio precário".
A instabilidade varia de acordo com as características das rochas e de estas poderem estar cobertas por materiais argilosos ou areno-argilosos. Uma vez atingido o limite de capacidade de absorção da água da chuva, estes materiais vão funcionar como agente de instabilidade.
Acção humana
O estudioso aponta também o dedo à acção do homem. No caso da linha do Tua, "os próprios trabalhos de manutenção ajudam a que, de algum modo, a vertente veja quebrada a sua morfodinâmica natural".
José Gomes dos Santos diz mais a derrocada que, em 2003, destruiu um troço de 60 metros da Estrada Nacional 222, no concelho de Armamar, e que poderia ter consequências muito trágicas, também resultou da acção humana. O desvio do normal curso de águas acabou por resultar na instabilidade da vertente.
O professor da Universidade de Coimbra observa, por isso, que devem ser tomadas as devidas precauções antes de serem efectuadas alterações à estrutura original das encostas em todo o Alto Douro Vinhateiro.
O professor João Gomes dos Santos não afirma peremptoriamente que o sismo de magnitude 5,8 na escala de Richter, sentido em Portugal na manhã do dia 12, possa estar relacionado com a queda de pedras que originou o acidente da linha do Tua. Mas não tem dúvidas que ajudou ao desiquilíbrio da vertente.
Adianta que aquele temor de terra foi o mais forte dos últimos 37 anos em Portugal e não provocou danos aparentemente visíveis. Porém, segundo o investigador da Universidade de Coimbra, terá "produzido uma dinâmica tectónica de reajustes ao longo das diversas falhas que afectam o território ibérico".
Considerando-o um sismo "violentíssimo", interroga-se se tal não terá contribuído decisivamente para a instabilidade da vertente onde o acidente ocorreu. Segundo diz, a vibração produzida pela automotora ao passar no local poderia não produzir qualquer instabilidade antes da ocorrência do sismo, mas uma vez que este veio alterar o equilíbrio dos materiais da vertente, a circulação da máquina acabou por ser suficiente para alterar a situação precária em que os materiais se encontravam, fazendo-os desabar.
In Eduardo Pinto - JN
22 fevereiro 2007
Devem ser tomadas as devidas precauções antes de serem efectuadas alterações à estrutura original das encostas em todo o Alto Douro Vinhateiro
Publicada por
br
2/22/2007 11:48:00 da manhã | Os comentários exprimem a opinião dos comentadores independentemente do sexo, da religião, da cor de pele, da cor política, da cor clubista, da nacionalidade, da língua, do 'volume da carteira', com ou sem 'canudo', letrados ou iletrados, bonitos ou feios... | O respeito pelo outro... a lealdade, mesmo na luta com o nosso adversário... o princípio de que a nossa liberdade acaba quando interfere com a de um nosso semelhante... impõe que se pratique a moderação dos comentários sem censura ou corte ideológico!... | O Barco Rabelo | pelorioabaixo@gmail.com | Copyright 2006 - 2010 barcorabelo.net
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário