Arquitecto António Leitão Barbosa quis, sobretudo, que a adega da Quinta da Touriga tivesse durabilidade e carácter
O caminho, de três quilómetros, mais ou menos acessível a uma viatura ligeira, que liga a cidade de Vila Nova de Foz Côa à Quinta da Touriga mostra uma paisagem característica do Douro Superior vinhas, amendoais, olivais, pequenos matagais e xisto, muito xisto. À entrada imaginária da propriedade, sobressai logo, ao longe, a moradia do caseiro. Quase imperceptíveis, exigindo mesmo um apurar da vista, começam a descortinar-se mais duas construções. Uma para habitação e outra onde funciona a adega. Foi esta última que ganhou o Prémio de Arquitectura do Douro, realizado por ocasião das comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro.
O projecto, da autoria do arquitecto do Porto António Leitão Barbosa, foi eleito entre 14 concorrentes como exemplo de qualidade arquitectónica no contexto de uma paisagem "cultural, evolutiva e viva", características que valeram ao Alto Douro Vinhateiro o estatuto de património da humanidade, atribuído pela Unesco.
A adega da Quinta da Touriga é um centro de vinificação composto por duas "naves deslizantes", como o autor do projecto as descreve. Resultaram de uma exigência do proprietário, Jorge Rosas, que pretendia um edifício que se confundisse com a paisagem e que respeitasse a arquitectura tradicional da região. Caso contrário, teria optado pelos vulgares pavilhões pré-fabricados de cores diversas, "profundamente agressivos para a paisagem". Por outro lado, pediu-lhe que o imóvel exigisse a menor gravidade possível, face às suas funções, tal como nas antigas adegas. "Tão importante como a estética é o aspecto prático", assume.
Tudo foi tão conseguido que não hesitou em apresentar a concurso o projecto da sua adega. "Quando vi aquilo, fiquei certo de que iríamos ganhar", recorda Rosas, pleno de satisfação por não se ter enganado. O arquitecto não estava tão convencido. Assume-se como alguém que "gosta pouco de dar nas vistas" e a ideia de entrar no concurso não o animou tanto como ao proprietário. No entanto, diz, agora, que o prémio é "muito motivador", até porque se trata do primeiro projecto que desenvolve no Douro.
A principal dificuldade foi construir o edifício num talude, o que exigiu algumas adaptações. O local foi escolhido pelo caseiro, Acácio Abrunhosa, de 62 anos, que não gostou de ver o patrão anunciar a intenção de transformar a garagem da sua casa numa adega. "Ficava sem arrumações".
Cada uma das duas naves tem 25 metros de comprimento por 9 de largura e outros tantos de altura, num dos topos. São dois rectângulos paralelos que deslizam um sobre o outro. Segundo Leitão Barbosa, assemelham-se a um objecto de arte "pendurado" na paisagem, quando se observa de uma cota mais alta.
O edifício é uma adega, mas, mais tarde, até poderá ser um armazém ou mesmo um museu, daí que o arquitecto o defina como uma arquitectura facilmente adaptável a outras funções. "Não sabemos o que vai ser daqui a 50 anos, o que importa é que tenha durabilidade e carácter", realça.
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